sábado, 17 de março de 2012

O perigo dos ciclos!

O tratamento desumano ao qual a educação recebe no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil em geral não é novidade para ninguém. Os trabalhadores em educação estão numa luta constante por melhores salários e condições de trabalho, porém outro perigo beira a vida escolar, os ciclos. A grande maioria das escolas do estado, senão todas trabalham com a divisão por séries. Temos altos índices de repetência na rede pública estadual, o que não é motivo de orgulho para o grupo docente, visto que existe uma diversidade de fatores que contribuem para esse quadro, como a falta de material e de um espaço pedagógico adequado, de participação familiar e de formação continuada dos professores. Tudo o que foi dito aqui é sabido por todos que acompanham os noticiários.
Há alguns anos foi instituído na cidade de Porto Alegre o sistema escolar de ciclos, ou seja, uma forma de divisão onde os alunos avançam por critérios de idade e não por conhecimento. É uma realidade que a situação financeira da rede municipal é superior à estadual, existe uma estrutura mais organizada no município, porém os ciclos não produzem resultados superiores às séries das escolas estaduais, estando Porto Alegre em posição intermediária entre as capitais brasileiras na avaliação do IDEB. Esse texto não é uma defesa da divisão do ensino por séries, mas sim um alerta sobre o perigo de aplicar os ciclos sem ter uma estrutura adequada, como é o caso do estado e da capital do mesmo. Todos os anos chegam alunos oriundos dos ciclos ao estado, e a situação de muitos estudantes é grave, pois a falta conhecimentos mínimos sobre leitura e escrita é uma realidade, pais relatam sua preocupação com o ensino que seus filhos receberam no município justificando sua transferência para a rede estadual.
Agora presenciamos um governo que está implantando os ciclos no estado, o primeiro passo foi a proibição da repetência até o terceiro ano do ensino fundamental, ou seja, ninguém pode ser retido nos referidos anos. A grande questão é que o estado não vai implantar os ciclos com a devida estrutura, vai ser mais um projeto que é bonito no papel e na prática não pode ser aplicado devidamente, isso porque é mais uma convicção política e de quem não entra em sala de aula há muitos anos, de quem não conhece as carências do alunado. Ir num programa de televisão e apresentar novas ideias e projetos é muito fácil, dizer que têm boas intenções sobre a educação também, qualquer um pode fazer. O que está faltando são políticos que abram diálogo com quem tem a experiência docente, e não apenas com teóricos que ficam décadas trancados na universidade e nos livros e não conhecem os desafios docentes na educação básica.